Podemos atuar preventivamente para evitar que os pacientes portadores de Covid-19 evoluam de forma mais grave?
Dr. Paulo Eduardo Ocke Reis e Dr. Marcos Cesar Braga Lima
Universidade Federal Fluminense (UFF), Departamento de Cirurgia Geral e Especializada, Niterói, RJ
Can we manage prophylactic therapy in COVID-19 patients to prevent severe illness complications?
RESUMO
Muitos pacientes com Covid-19 apresentam complicações tromboembólicas que acabam piorando seu prognóstico. Os autores propõem uma modificação no escore CHA2DS2-VASc, incluindo 1 ponto para Covid-19, para, desse modo, indicar profilaxia de eventos tromboembólicos antes do agravamento do quadro. As vantagens dessa modificação seriam evitar a piora do paciente por problemas tromboembólicos, bem como a necessidade de internação em unidade de tratamento intensivo e de ventilação mecânica, e diminuir a mortalidade.
PALAVRAS-CHAVE
Covid-19; coronavírus; anticoagulantes; trombose; prevenção; mortalidade hospitalar
ABSTRACT
Many patients with COVID-19 have thromboembolic complications that worsen their prognosis. Herein, the authors propose a modified version of the CHA2DS2-VASc score, including 1 point for COVID-19, so that prophylaxis to protect against thromboembolic events would be indicated before the condition becomes severe. The advantages of this modification would be prevention of the patient’s condition worsening due to thromboembolic problems and reduction of the likelihood of a need for intensive care and mechanical ventilation, reducing mortality.
KEYWORDS
COVID-19; coronavirus; anticoagulants; thrombosis; prevention; hospital mortality
INTRODUÇÃO
Desde a primeira descrição da infecção por Covid-19, a síndrome respiratória grave associada à doença levou ao aumento rápido de admissões em unidades de tratamento intensivo (UTIs) e à alta mortalidade de um grupo de pacientes1. Em uma pandemia, é preciso evitar a saturação do sistema de saúde tanto público quanto privado, em especial das UTIs. O principal achado com relevância nos pulmões é a presença de trombos plaquetários e fibrina em pequenos vasos arteriais, enquadrando-se perfeitamente no contexto clínico da coagulopatia2.
Como não há um tratamento aprovado em consenso neste cenário e tendo em vista a possibilidade de trombose associada à infecção pelo coronavírus em determinados casos, a experiência adquirida recentemente e estudos científicos ainda embrionários têm mostrado que uma anticoagulação efetiva poderia prevenir ou reverter o estado pró-trombótico de alguns pacientes2,3.
PROPOSTA
Observamos que, coincidentemente, o grupo de pacientes que evolui mal da infecção por Covid-19 (Figura 1)4 e morre é o mesmo paciente do escore CHA2DS2-VASc com risco para acidente vascular cerebral, episódio isquêmico transitório, embolia periférica e tromboembolismo pulmonar (Tabela 1)5,6. Por esse escore, o paciente é considerado de alto risco se a pontuação for 2 ou mais, de risco intermediário se a pontuação for 1 e de baixo risco se não tiver fatores de risco6. A nossa proposta, portanto, é incluir 1 ponto adicional no escore CHA2DS2-VASc (Tabela 1) para pacientes portadores de Covid-19 e usar o novo escore para indicar a anticoagulação profilática nos pacientes com alto risco de trombose pelo escore, na fase 2 da doença (Tabela 2). Desse modo, busca-se evitar a piora do paciente por problemas tromboembólicos, bem como a necessidade de internação em UTI e de ventilação mecânica7.
A ideia é agir de forma similar ao risco de tromboses e embolias pelos escores conhecidos e iniciar a profilaxia para tentar evitar a ocorrência do que tem contribuído para o agravamento do quadro clínico desses pacientes1-3. Através deste artigo, os autores propõem uma modificação pontual na escore CHA2DS2-VASc para estudo de sua validação, com o objetivo de diminuir o número de doentes críticos que chegam à fase3.