AUTORES
Henrique Pinheiro Leite Benedito, Lucas Carvalho Tinoco, Eugênio Carlos de Almeida Tinoco, Antonio Carlos Botelho da Silva, Alexandre Funes Bastos, Julio Tinoco Nunes
Serviço de Cirurgia Vascular e Endovascular do Hospital São José do Avaí – Itaperuna/RJ
RESUMO
Objetivo: Apresentar uma série de casos e resultados de angioplastia de artéria renal com stent balão-expansível como método de tratamento endovascular nos casos de estenose de artéria renal devido à doença aterosclerótica.
Material e Métodos: Realizada análise retrospectiva descritiva baseada nos prontuários dos pacientes submetidos à angioplastia transluminal percutânea de artéria renal, no período de janeiro de 2018 a dezembro de 2022. Foram realizados 32 procedimentos endovasculares devido à doença aterosclerótica, todos com uso de stent balão-
expansível.
Resultados: Houve sucesso na angioplastia de todos os casos, com alta hospitalar em dois dias; apenas um caso apresentou uma complicação menor.
Conclusão: A angioplastia de artéria renal com stent balão-expansível é um método eficaz e preciso no tratamento da estenose de artéria renal por doença aterosclerótica, sendo importante componente no tratamento da hipertensão
arterial secundária de causa renovascular, com risco de complicações aceitáveis e baixa morbimortalidade, e seu maior benefício é a manutenção da perviedade e da função renal.
INTRODUÇÃO
A doença aterosclerótica corresponde à etiologia mais prevalente da estenose de artéria renal, com prevalência acima de 85% dos casos. A estenose de artéria renal corresponde a menos de 1% dos casos globais de hipertensão arterial sistêmica (HAS), mas é responsável por até 40% das apresentações de hipertensão refratária [1]. A arteriografia das artérias renais é considerada o exame padrão-ouro para o diagnóstico, porém trata-se de um exame invasivo e com menor disponibilidade, o que torna a ultrassonografia Doppler das
artérias renais a primeira opção em muitos casos, apresentando especificidade de 92% e sensibilidade de 85% [2]. A angioplastia para o tratamento da estenose de artéria renal está indicada para: (1) HAS refratária sem
controle adequado com terapêutica anti-hipertensiva otimizada; (2) pacientes intolerantes à terapia medicamentosa; (3) pacientes apresentando insuficiência cardíaca com tratamento refratário ou edema pulmonar hipertensivo recorrente concomitantes à presença de estenose de artéria renal; (4) perda progressiva da função renal associada à estenose de artéria renal [3, 4]. O objetivo do presente trabalho é apresentar uma série de casos e resultados de angioplastia de artéria renal com stent balão-expansível como método de tratamento endovascular nos casos de estenose de artéria renal devido à doença aterosclerótica.
MATERIAIS E MÉTODOS
Realizada análise retrospectiva descritiva baseada nos prontuários dos pacientes submetidos à angioplastia transluminal percutânea de artéria renal, no período de janeiro de 2018 a dezembro de 2022. Foram realizados 32 procedimentos endovasculares devido à doença aterosclerótica, todos com uso de stent balão-expansível.
RESULTADOS
A presente série de casos incluiu 32 pacientes, sendo 16 do sexo masculino (50%) e 16 do sexo feminino. Quanto à distribuição etária, a média de idade ficou em 70,5 anos, sendo o paciente mais jovem de 56 anos e o mais idoso de 89 anos. No que diz respeito ao método diagnóstico utilizado, 13 pacientes foram submetidos à angiotomografia
computadorizada (40%), 12 pacientes realizaram ultrassonografia Doppler (38%) e sete pacientes receberam diagnóstico por arteriografia (22%). Segundo a lateralidade, 12 pacientes foram submetidos à angioplastia da artéria renal esquerda (37,5%); e 20 pacientes à angioplastia da artéria renal direita (62,5%). Considerando as dimensões dos stents balão-expansíveis utilizados, o mais frequente foi 6×18 mm (40%), sendo o menor 3×16 mm e o maior 7×19 mm. Das vias de acesso disponíveis, o acesso percutâneo pela artéria braquial direita foi realizado em 15 casos (47%), enquanto 17 casos (53%) foram pela artéria femoral comum direita. Quatro pacientes eram portadores de rim único (12,5%). Todos os 32 pacientes eram portadores de HAS refratária, e 14 pacientes (43%) eram diabéticos. A prevalência de tabagismo na amostra era de 40%, correspondendo a 13 pacientes. Apenas um paciente apresentou
complicação (3%), correspondendo a uma complicação menor, com hipotensão arterial perioperatória por resposta vasovagal. Mortalidade zero em 30 dias de procedimento. Esses resultados podem ser visualizados na tabela 1. As figuras 1 e 2 exemplificam, respectivamente, arteriografia pré e pós-angioplastia de artéria renal.
Tabela 1 – Resultados
Figura 1:
Arteriografia pré-angioplastia de artéria renal direita com stent balão-expansível via acesso percutâneo pela artéria braquial direita (Acervo pessoal).
Figura 2:
Arteriografia final após angioplastia de artéria renal direita com stent balão-expansível via acesso percutâneo pela artéria braquial direita (Acervo pessoal).
DISCUSSÃO
Essa série de casos realizada em um único centro demonstra a factibilidade e segurança na realização da angioplastia de artéria renal. Todos os pacientes submetidos ao tratamento endovascular eram portadores de HAS refratária, e
apresentaram, no seguimento pós-operatório em 30 dias, melhora variável dos níveis pressóricos. O que se espera com o tratamento da estenose de artéria renal com angioplastia é a manutenção da função renal por mais tempo,
associada à redução dos níveis pressóricos e da redução do número de medicações anti-hipertensivas utilizadas [5, 6].
A angioplastia de artéria renal com stent balão-expansível, quando realizada em centros com expertise em cirurgia endovascular, se mostra segura, com alto índice de sucesso e baixa taxa de complicações, associada à taxa de reestenose em dois anos de 8 a 30% [7].
CONCLUSÃO
A angioplastia de artéria renal com stent balão-expansível é um método eficaz e preciso no tratamento da estenose de artéria renal por doença aterosclerótica, sendo importante componente no tratamento da hipertensão arterial
secundária de causa renovascular e na redução da perda de função renal; com risco de complicações aceitáveis e baixa morbimortalidade, seu maior benefício é a manutenção da perviedade e da função renal.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
- R. D. Safian and S. C. Textor, “Renal-artery stenosis,” N Engl J Med, vol. 344, no. 6, pp. 431–442, Feb. 2001, doi: 10.1056/NEJM200102083440607.
- S. C. Textor and L. Lerman, “Renovascular hypertension and ischemic nephropathy,” Am J Hypertens, vol. 23, no. 11, pp. 1159–1169, Nov. 2010, doi: 10.1038/AJH.2010.174.
- C. W. Hicks et al., “Atherosclerotic Renovascular Disease: A KDIGO (Kidney Disease: Improving Global Outcomes) Controversies Conference,” Am J Kidney Dis, vol. 79, no. 2, pp. 289–301, Feb. 2022, doi: 10.1053/J.AJKD.2021.06.025.
- J. L. Anderson et al., “Management of patients with peripheral artery disease (compilation of 2005 and 2011 ACCF/AHA guideline recommendations): a report of the American College of Cardiology Foundation/American
Heart Association Task Force on Practice Guidelines,” Circulation, vol. 127, no. 13, pp. 1425–1443, Apr. 2013, doi: 10.1161/CIR.0B013E31828B82AA.
- P. N. Harden et al., “Effect of renal-artery stenting on progression of renovascular renal failure,” Lancet, vol. 349, no. 9059, pp. 1133–1136, Apr. 1997, doi: 10.1016/S0140-6736(96)10093-3.
- R. J. Lederman, F. O. Mendelsohn, R. Santos, H. R. Phillips, R. S. Stack, and J. J. Crowley, “Primary renal
artery stenting: characteristics and outcomes after 363 procedures,” Am Heart J, vol. 142, no. 2, pp. 314–323, 2001, doi: 10.1067/MHJ.2001.116958.
- A. W. Beck et al., “Predicting blood pressure response after renal artery stenting,” J Vasc Surg, vol. 51, no. 2, pp. 380–385, Feb. 2010, doi: 10.1016/J.JVS.2009.08.088.