Antônio Luiz de Medina
Antonio Luiz de Medina
Na manhã do dia 02 de junho, a SBACV-RJ perdeu um de seus mais queridos membros e um dos Cirurgiões Vasculares mais renomados do país, o Professor Dr. Antônio Luiz de Medina, emérito e primeiro membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular a assumir a Presidência da Academia Nacional de Medicina.
Baiano, nascido em 14 de outubro de 1928, Dr. Medina veio cedo para o Rio de Janeiro. Em 1946, foi aprovado em 27º lugar no vestibular da Faculdade Nacional de Medicina, da Universidade do Brasil (atual UFRJ), onde se formou em 1952.
Entre os anos 1949 e 1952, foi estagiário da 13ª Enfermaria da Santa Casa de Misericórdia, sob a orientação do grande mestre Dr. Darcy Monteiro, tendo no último ano conhecido o Dr. Paulo Samuel Santos – pioneiro da Cirurgia Vascular no Rio de Janeiro –, que o introduziu na Especialidade, na época ainda incipiente.
Em 1953, o Rio de Janeiro ainda era a capital da República, e Dr. Medina foi nomeado médico da Prefeitura do então Distrito Federal, trabalhando no antigo Hospital de Pronto Socorro, hoje Souza Aguiar. Na Santa Casa, no HPS e no Hospital São Francisco de Assis, auxiliou e aperfeiçou-se com Paulo Samuel e outros pioneiros, sempre sob o olhar atento de médicos dedicados à Angiologia, como Sydney Arruda, Georges Charles de Lemos Cordeiro e Orlando Brum.
Em 1959, foi nomeado responsável pelo Departamento de Doenças Vasculares Periféricas da 3ª Clínica Cirúrgica do Hospital Pedro Ernesto - atual Hospital de Clínicas da Uerj — onde estreitou seus laços com pioneiros como Algy de Medeiros, Amélio Pinto Ribeiro e Paulo Roberto Mattos da Silveira. É dessa época seu conhecimento com Michael E. De Bakey, de quem se tornaria admirador e amigo, assim como com Luiz Edgar Puech-Leão e Helênio Coutinho.
Foi também Chefe do Serviço de Angiologia do mesmo hospital (1961-67); Chefe do Serviço de Cirurgia Vascular do Hospital do Iaserj (1967-92); Assessor Especial de Saúde da Prefeitura do Rio de Janeiro (1991-92) e Secretário de Estado de Saúde do Estado do Rio de Janeiro (1995-96). Dr. Medina era ainda Membro Titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões; "Fellow" do Colégio Americano de Cirurgiões; Membro Titular da Academia Nacional de Medicina desde 1988, onde foi Presidente da Secção de Cirurgia (no biênio 1993-1995); e Presidente da própria instituição entre os anos de 2005 e 2007.
Foi casado com Carmem Medina, teve seis filhos, três netos e duas bisnetas. Além do exercício da Medicina, lecionar era uma das grandes realizações da sua vida. O Dr. Antônio Luiz de Medina era Titular do curso de Pós-Graduação em Cirurgia Vascular e Endovascular da PUC-RJ desde 1979. Como professor, formou 43 residentes e 98 Pós-Graduados em Cirurgia Vascular, distribuídos por todo o Brasil e vários outros países.
Como acadêmico, recebeu as seguintes condecorações: as medalhas José Bonifácio da UERJ; Tiradentes, da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro; do Corpo de Bombeiros do Estado do Rio de Janeiro; de Mérito D. João VI da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro; da Ordem do Mérito René Fontaine em Cirurgia Vascular; Paulo Samuel Santos – Cirurgia Vascular; Clementino Fraga, do Governo do Estado do Rio de Janeiro; a Espátula do Núcleo Central do Colégio Brasileiro de Cirurgiões; a insígnia da Inconfidência do Governo do Estado de Minas Gerais; o Diploma de Honra ao Mérito do Colégio Brasileiro de Cirurgiões; e a Medalha da Academia Portuguesa de Medicina.
Durante sua vida profissional, o Dr. Antônio Luiz de Medina fez no exterior seis cursos de Pós- -Graduação em Cirurgia Vascular, organizou 16 cursos de Atualização e Pós-Graduação, ministrou 185 aulas em cursos e simpósios, participou de 47 congressos como membro, participou como Moderador Relator ou Professor convidado em 121 congressos apresentou 90 trabalhos em congressos, publicou 32 trabalhos em revistas nacionais e estrangeiras e foi o primeiro Cirurgião Vascular a se imortalizar na Academia Nacional de Medicina.
52ª Revista da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular - Rio de Janeiro
Em 2011, o Dr. Antônio Luiz de Medina concedeu uma entrevista para o vídeo de comemoração dos 25 anos do Encontro Carioca. Alguns trechos da entrevista, que a Revista da SBACV-RJ reproduz aqui, mostram a sua vitalidade e seu grande amor pela vida, pela Especialidade e pela Sociedade:
"A gente vive o presente, a gente pensa sempre no futuro, mas não pode esquecer o passado. O passado, a memória, o resgate da memória é que fazem a pujança e a força da Sociedade."
"Deus realmente me privilegiou muito. Eu pude assistir à criação da Sociedade Brasileira de Angiologia em 1952. Não pude assinar a ata de criação da Sociedade, porque eu ainda era estudante, ia me formar em dezembro. Mas acompanhei a Sociedade esse tempo todo, vi a participação de todos, o carinho, a vontade de fazer uma grande Especialidade, e com ela eu fui fazendo também o meu aprimoramento, indo aos congressos..."
"Eu acho que a fundação da Sociedade criou um mundo novo dentro da área de Clínica Médica e de Cirurgia. E eu tive a oportunidade de acompanhar toda essa evolução até agora, quando a Cirurgia Vascular, que atingiu o padrão ouro, foi diminuindo sua atuação em função do grande avanço da Cirurgia Endovascular, que hoje naturalmente domina a Especialidade."
"Eu sou professor Titular da PUC, de Cirurgia Vascular e Endovascular desde 1978, e eu completo esse ano 100 alunos de lá, junto com os 43 Residentes que eu fiz no Hospital do Iaserj. Eu tenho uma massa humana de Especialistas espalhados pelo Brasil. E todos eles são sócios da Sociedade: eu sempre os incentivei a participar da Sociedade, a lutar por ela, a viver a Sociedade... Porque essa troca de opinião e esse intercâmbio não é só cultural e científico, é também de carinho e de amizade entre aqueles participantes."
"É um prazer para mim eu ir a um Congresso e encontrar aqueles alunos que eu não via há muito tempo. Muitas vezes, eu faço o Almoço com o Professor, onde a gente renova as esperanças, se revê, e eles dizem "o Sr. está ótimo".O fato de estar ótimo é sinal de que estou vivo e estou presente. É isso muito gratificante!"
Fonte: Memória Vascular - Revista de Angiologia e de Cirurgia Vascular / Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular do Rio de Janeiro Nº III - Mai./Jun. - 2014.
Merisa Braga de Miguez Garrido
Merisa Braga de Miguez Garrido
Filha do Professor e Oficial de Marinha Carlos Miguez Garrido e da Professora Irene Braga de Miguez Garrido, nasceu em Maceió em 26 de junho de 1928, onde fez seus estudos fundamentais, ginasial e colegial tendo se diplomado como Professora primária em 1945. No final deste ano mudou-se para o Rio de Janeiro a fim de, no ano seguinte, ingressar através de vestibular na Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil, atual UFRJ, pela qual se diplomou em 1951, aos 23 anos.
Professora livre-docente em Anatomia Humana pela Universidade Federal Fluminense, em 1975, lecionou Anatomia, Descritiva e Topográfica, de 1952 a 1965 e Técnica Operatória e Cirurgia Experimental de 1958 a 1959, na Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil. Também lecionou Anatomia Médico-Cirúrgica na Faculdade de Ciências Médicas na Universidade do Rio de Janeiro (UERJ) de 1955 a 1977.
Participou de bancas examinadoras de mestrado e doutorado, ou livre-docência, em várias Universidades Brasileiras (UFRJ, USP, UNIFESP e UNCISAL). Em 1981 recebeu o Título de Cirugia Vascular, conferido em concurso realizado conjuntamente pela SBACV e AMB.
Exerceu suas atividades profissionais no Hospital Estadual Getúlio Vargas desde 1954, como cirurgiã-geral, efetivada por concurso público em 1965. Chefiou o Serviço de Cirurgia Vascular, de 1969 até sua aposentadoria em 1997.
Autora de 29 capítulos de livros de Cirurgia ou de Angiologia e Cirurgia Vascular, o último no “Guia Prático de Angiologia e Cirurgia Vascular” de Pitta et alli, divulgado por internet em 2003; autora de um livro em duas edições (1983 e 2000), “Linfangites e Erisipelas”, com a colaboração de Amélio Pinto-Ribeiro, Editora Revinter.
Recebeu inúmeras homenagens, entre as quais 25 placas de prata e várias medalhas; 32 no total. Destacam-se as seguintes: Medalha do Mérito Angiológico René Fontaine (o mais alto galardão da SBACV), no grau de Mestra em 1986, e a de Grã-Mestra em 1999; a Medalha do Mérito Cirúrgico 2009, concedida pelo Colégio Brasileiro de Cirurgiões e a Comenda Honor al Mérito recebida do Colégio Médico del Peru, em 16 de Setembro de 2010, e que lhe chegou às mãos através do Itamarati, em 2011; e a Medalha Antonio Luis de Medina em 2015.
Editora da Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões de 1992 a 1999. Foi Vice-Presidente da AMB no período de 1995-1997. Na SBACV serviu por 10 anos, e foi pioneira em várias deliberações. Duas vezes eleita Presidente da Regional do Rio de Janeiro, nos biênios de 1979-1981 e 1983-1985.
No 1º biênio realizou, pela 1ª vez, reuniões fora da sede e continuou a fazê-las no 2º, quando também inovou com as reuniões à noite nas últimas quintas-feiras de cada mês, no Anfiteatro da Clínica Bambina, sem ônus para a SBAng, graças a gentileza de Silvio Frota Nogueira. Todos os serviços participavam e, pela 1ª vez, foram convidados colegas para debater os casos apresentados. Também, nesta época, foi criada a defesa profissional, a tabela de honorários médicos; se destacando o trabalho de José Luis Nascimento Silva. O Dr. Vasco Lauria da Fonseca Filho também fez um belo trabalho como Secretário e ACDG Mayall como tesoureiro, nas duas gestões.
Na Diretoria Nacional foi Secretária-Geral em dois biênios (1985-1987 e 1987-1989). Lançou-se à Presidência em 1989, essa foi a primeira vez em que um Presidente da Nacional chegava ao cargo pelo voto de seus sócios em AGO, a Dra. Merisa foi eleita na chapa:
1º Vice-Presidente: Francisco Humberto de Abreu Maffei;
2º Vice-Presidente Valdemy Silva;
Secretário-Geral: Berilo Langer;
Tesoureiro Geral: Fausto Miranda Júnior;
1º Secretário: Maldonat Azambuja Santos;
2º Secretário: Adamastor Humberto Pereira;
1º Tesoureiro: Marcio Leal de Meirelles;
2º Tesoureiro: Liberato Karaoglan de Moura;
Diretor de Publicações: José Fernando Macedo;
Vice-Diretor de Publicações: João Luiz Sandri;
Diretor Científico: Franklin Pinto Fonseca
Foi uma gestão operante pois trabalhou-se em conjunto, visando o interesse coletivo, o crescimento da querida SBACV, a valorização dos interesses de seus associados, com a participação de todas as Regionais.
Faz parte do Conselho Científico da SBACV de 1991 a 2001. Como ex-Presidente, faz parte do Conselho Superior Emérita em 1998; em 1993, recebeu durante a AGO de Porto-Alegre, realizada no XXX Congresso Brasileiro de Angiologia e Cirurgia Vascular, o Título de Benemérita.
Presidiu o IMAGO 92, no Rio de Janeiro, (evento internacional, com 26 convidados estrangeiros) e Scientific Coordinator of the 15th International Congress of Lymphology, em São Paulo no ano de 1995.
Entre seus títulos destaque sejam dados a:
- Membro Honorário da Academia Brasileira de Medicina Militar, em 1989;
- Membro Honorário da Sociedad Peruana de Cirugia Torácica y Cardiovascular em1987, do Collège Français de Pathologie Vasculaire em 1993, da Sociedad Peruana de Angiologia y Cirugia Vascular em 1998;
- Membro do Comitê dês Consultants du “Journal dês Maladies Vasculaires” revista indexada, órgão oficial de cinco sociedades francesas; Paris - França, em 1998;
- Membro do Comitê Scientifique da mesma revista, de 1999 a 2007.
Marcio Leal de Meirelles
Marcio Leal de Meirelles
Um dos maiores presidentes da história da SBACV
Dr. Marcio Leal de Meirelles é reconhecidamente um dos maiores presidentes da rica história da nossa amada SBACV. Catarinense de nascimento e carioca de coração, veio ao mundo em 1 de dezembro de 1933, no município de Itajaí, cidade portuária e pesqueira do litoral norte de Santa Catarina. Filho de Margarida Miranda da Cruz e João Leal de Meirelles Junior é o caçula de cinco filhos: Roberto, Paulo, Silvio (Paulo e Silvio eram gêmeos), Homero (eminente médico ginecologista) e Marcio. Sua família se mudou para a capital Florianópolis ainda na infância de Marcio. Aos 8 anos, migrou para o Rio de Janeiro. Concluído o curso primário, esteve durante três anos no interior de São Paulo (São Carlos), retornando definitivamente, aos 14 anos, para o Rio de Janeiro. Fez seu ensino colegial (atual ensino médio) no Colégio Andrews, na Praia de Botafogo, onde atualmente funciona o Colégio PH. Homem muito ligado à família, quando do noivado do irmão Homero com Terezinha, ainda adolescente e de bicicleta, desempenhou com muito gosto e afinco a tarefa de entregar em domicílio parte dos convites de casamento deles.
Aos 16 anos, já se envolvia com o trabalho comunitário. Fundou um jornalzinho (o “União”) com os colegas de sala de aula e, também com eles, formou um animado grupo de ecoturismo que, nos fins de semana, subia os morros da cidade (Dois Irmãos, Pico do Papagaio e Pedra Bonita) ou fazia excursões a locais pouco explorados, como o Pontal de Sernambetiba, no então longínquo Recreio dos Bandeirantes. Membro da Ação Católica Brasileira, participou ativamente da Juventude Estudantil Católica (JEC) e do movimento estudantil da época na União Metropolitana dos Estudantes Secundaristas, tendo, em 1952, integrado a delegação da entidade ao conclave nacional em Belo Horizonte. Nesse período, era da redação e da distribuição nos colégios do jornal estudantil “Roteiro da Juventude”.
Ingressou, no ano de 1953, na Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil (atual UFRJ), no saudoso prédio da Praia Vermelha. Desde logo, associou o estudo das ciências básicas ao desempenho de atividades coletivas. Assim, logo no primeiro ano. foi eleito representante de turma. Dedicou-se à organização e distribuição de apostilas, ao fortalecimento da cooperativa da faculdade, especialmente quanto à importação de livros estrangeiros, e liderou uma acirrada campanha pela humanização do trote aos calouros. Durante os anos de faculdade, foi aluno de alguns de seus futuros colegas e mentores na SBACV: Sydney Arruda, George Charles Lemos Cordeiro, Humberto Barreto, Merisa Braga de Miguez Garrido, entre outros. Também nesse tempo, logrou aprovação em vários concursos públicos, como o do Instituto dos Comerciários, o IAPC (atual Hospital Federal de Ipanema), o de acadêmico do Pronto Socorro (Hospital Estadual Carlos Chagas), o de técnico de laboratório (Hospital Estadual Getúlio Vargas) e, finalmente, para admissão a estágio nos Estados Unidos, no concurso para graduados estrangeiros (ECFMG).
Formado médico em 1958, iniciou no ano seguinte sua pós-graduação (Internato e Residência em Cirurgia) nos Estados Unidos da América. Fez, inicialmente, o internato rotatório, no Ascension Borgess Hospital, no Condado de Kalamazoo, Estado de Michigan. Lá, se casou, três meses após a chegada, com sua noiva brasileira e colega de atividades na JUC (Juventude Universitária Católica), Maria de Nazareth Silveira. Natural de Belém do Pará, ela foi graduada em História Natural em 1958 na UERJ, mestre e doutora em Biofísica pela UFRJ, além de ter especialização em Parasitologia também pela UFRJ, foi pesquisadora titular da célebre Fundação Oswaldo Cruz, grande expoente dos estudos em doença de Chagas e uma cientista engajada à vida institucional. Uma longa doença fragilizou o final de vida da Profª. Nazareth, contra a qual ela lutou bravamente, sempre no carinho e no aconchego de sua família e do seu amado Marcio, começando e terminando os dias sempre com um beijo.
Ainda em Kalamazoo, nasceria o primeiro dos sete filhos deste admirável casal, o cirurgião vascular e membro da SBACV, Dr. Sergio Silveira Leal de Meirelles. No ano seguinte, iniciou a residência em Cirurgia no Hospital Good Samaritan, em Cincinnati, Ohio – o mesmo hospital onde o Dr. Thomas Fogarty (então cumprindo serviço militar) iria desenvolver, pouco depois, seu famoso cateter de embolectomia e onde também conheceu John Cranley, discípulo de Lynton e pioneiro da cirurgia vascular. Os três últimos anos de residência médica os fez em Worcester, estado de Massachusetts, no St. Vincent Hospital, tendo Paul Ware como seu mentor na cirurgia vascular.
Tão logo chegou de volta ao Brasil, foi convidado por Rodolpho Perissé para participar, com Antonio Joaquim Monteiro da Silva, José Carlos Bastos Côrtes e Maldonat Azambuja Santos, do recém-criado Serviço de Cirurgia Vascular do Hospital Souza Aguiar. Era um grupo pequeno e solidário que se revezava na cobertura de todos os plantões. Foi uma época criativa e de grande atividade. Perissé incentivava a atuação na SBANG (Sociedade Brasileira de Angiologia), participando o Dr. Marcio com inúmeras apresentações em congressos e reuniões científicas e a publicação de trabalhos, especialmente na Revista Angiopatias.
Sua atividade na clínica particular era também intensa e, graças a ela, Meirelles recebeu, em 1971, em trabalho conjunto com Monteiro da Silva e Risalva da Costa, o prêmio José de Mendonça, conferido pelo Colégio Brasileiro de Cirurgiões para inovações em técnica cirúrgica, com a apresentação de “uma nova incisão para acesso ao hiato safeno” - a que alguns colegas mais próximos passaram a referir como “incisão de Monteiro-Meirelles”.
Trabalhou no Hospital Souza Aguiar durante 30 anos (1965 a 1995) e teve como chefes Rodolpho Perissé e Haroldo Rodrigues. Durante esse longo período, conviveu no serviço com uma plêiade de nomes ilustres da Cirurgia Vascular. Foi durante vários anos chefe de clínica e, de 1990 a 1995, chefe do Serviço. Nessas funções, teve algumas iniciativas inovadoras, como por exemplo, no começo dos anos 80, criar um setor multidisciplinar de microcirurgia e, na década de 90, obter a oficialização da residência médica.
Suas atividades foram, aos poucos, deixando de restringir-se ao âmbito do Serviço de Cirurgia Vascular para estender-se ao Hospital e à própria estrutura central da Secretária Municipal de Saúde. Presidiu a banca examinadora do primeiro concurso para cirurgia vascular realizado pela Prefeitura, em 1986. Foi presidente do Centro de Estudos. Ajudou a criar a Comissão de Ética do Hospital e foi seu primeiro presidente. Foi diretor do Departamento de Desenvolvimento de Recursos Humanos da Secretaria Municipal de Saúde. Nessa função, coube-lhe coordenar as atividades de bolsistas, internos e residentes e a capacitação do pessoal responsável pelo funcionamento do tomógrafo do Hospital Souza Aguiar, o primeiro tomógrafo em hospital de pronto socorro no Rio de Janeiro. Durante a crise da falência da Prefeitura, em 1989, assumiu a direção do Hospital Souza Aguiar. Tempo de greves, de funcionários sem salários, de carências generalizadas, de estresse permanente. Pouco a pouco, a situação foi superada, a nova e exemplar grande emergência inaugurada e o funcionamento do hospital restabelecido. Foi também criado, durante a sua direção, o Museu do Hospital e fundada a Associação dos Antigos Funcionários. Deixou, em 1991, a direção do hospital e, logo a seguir, assumiu a chefia do Serviço de Cirurgia Vascular. Nos últimos meses de sua carreira como médico do serviço público, participou intensamente do movimento das chefias médicas pelo reaparelhamento e modernização do Hospital Municipal Souza Aguiar, objetivo finalmente alcançado após dura e prolongada negociação. Antes de se aposentar, ajudou na estruturação formal do corpo clínico do hospital e na eleição de sua primeira diretoria.
Dr. Marcio Meirelles também trabalhou muitos anos como angiologista e cirurgião vascular no serviço médico do Banco do Brasil, onde também, ao final da carreira, exerceu funções de chefia. Também lá, envolveu-se na atividade do centro de estudos e na criação da primeira comissão de ética médica, de que foi presidente.
Assim como o irmão Homero, operou semanalmente na Casa de Saúde São José, no Humaitá onde, por mais de três décadas, internou seus pacientes particulares. Era, atualmente, presidente da Comissão de Ética da Casa de Saúde.
No setor associativo, Marcio Leal de Meirelles participou de associações de bairro – foi fundador e várias vezes diretor da AMA Jardim Botânico - e de clubes esportivos – foi diretor de natação do Clube de Regatas do Flamengo, do qual é sócio proprietário e conselheiro nato do Conselho Deliberativo.
Dr. Marcio foi conselheiro do Cremerj, de 1988 a 1993, secretário-geral da Sociedade Médica do Rio de Janeiro (Somerj) e membro do Conselho Deliberativo da Central de Convênios.
Sujeito gentil, educado, fidalgo, íntegro, probo e com grande senso de justiça e espírito associativo. Verdadeiro ícone e exemplo para os milhares de sócios da SBACV Brasil afora. Com seu espírito agregador, fundou e liderou um movimento histórico dos angiologistas e cirurgiões vasculares cariocas que, depois, foi copiado por diversas associações médicas, a saudosa Cooperativa dos Angiologistas e Cirurgiões Vasculares do Rio de Janeiro, a Coopangio-RJ, pioneira na defesa profissional da classe e que almejava a união dos especialistas vasculares com o fito de lutar por honorários médicos mais dignos, em especial na saúde suplementar, sendo seu presidente de 1994 a 1998 e Presidente do Conselho Administrativo de 2001 a 2003. Foi ainda membro dos Conselhos Consultivos da Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro e da Central de Convênios, Membro Titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões (TCBC), foi Diretor da Seção Especializada em Cirurgia Vascular do CBC e fellow do American College of Surgeons (FACS).
Na Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV), ingressou como sócio em 1965, passando a Membro Titular em 1972. Foi Membro da Diretoria da SBACV-RJ em muitas gestões e foi seu vice-presidente nos mandatos de 1977-1979, 1993-1995 e 1995-1997. Após disputadíssimo sufrágio eleitoral (ganho nos votos finais da apuração), o primeiro com duas chapas concorrentes, aliás, até hoje, foi presidente da Regional RJ na gestão 1997-1999. Nunca nos decepcionou e uniu novamente a SBACV-RJ com sua doçura e inteligência.
Atualmente, era membro da Diretoria da Regional RJ como membro do Conselho Consultivo, membro da Comissão de Segurança do Paciente e membro do Conselho de Notáveis.
Exerceu também diversos cargos na diretoria da Nacional. Foi 1º Secretário de 1987 a 1989, 1º Tesoureiro de 1989 a 1991, Tesoureiro-Geral de 1999 a 2001 e Presidente de 2001 a 2003, além de membro do Conselho Superior.
Como presidente da Nacional, enfrentou desafios enormes como o risco de perdermos as áreas de atuação para outras especialidades. Com seu jeito meigo, mas firme, evitou que a SBACV sucumbisse frente às especialidades muito mais numerosas e fortes. Foi também sob a sua batuta, em 2002, que nasceu a revista científica oficial da SBACV, o Jornal Vascular Brasileiro (JVB). Nossa revista virou símbolo nacional e sacramentou a importância da SBACV a nível mundial.
E o homem nunca parou de se importar com a classe médica e nunca abandonou o conhecimento científico. Recentemente, mais precisamente no ano de 2016, ergueu a bandeira e fundou o Observatório da Saúde (organização sem fins lucrativos, mas capaz de proporcionar debates amplos de todos os segmentos da sociedade civil brasileira relacionados à prevenção e à promoção da saúde no Rio de Janeiro e no Brasil), onde também foi presidente. Ele também foi um dos fundadores do Instituto de Medicina e Cidadania e era o vice-presidente da entidade.
Dr. Marcio Leal de Meirelles enfrentou o câncer de frente com a valentia de sempre. Há cerca de dez anos, foi diagnosticado com um tumor no intestino e, anos depois, com uma metástase no fígado. Curou-se após ser submetido a cirurgias e tratamentos quimioterápicos bem-sucedidos. Infelizmente, após complicações da Covid-19, deixa órfãos sete filhos (Sérgio, Maurício, Lúcia, Cristina, Virgínia, Eduardo e Ricardo), oito netos e centenas de angiologistas e cirurgiões vasculares. Vai deixar uma enorme lacuna, um vazio no plano terreno. Vá em paz querido mestre e grande rubro-negro!
Marcio Portilho
Marcio Portilho
Queridos amigos e sócios da SBACV-RJ,
Não poderíamos deixar de expressar em palavras um pouco do nosso respeito, carinho e amor pelo querido pai, marido, avô, sogro, amigo e parceiro que É o Dr. Marcio Arruda Portilho.
Nascido e criado no Rio de Janeiro, filho único de Jonas Portilho e Delmar Arruda Portilho, Marcio teve uma vida plena, repleta de realizações e conquistas.
Executou com maestria a tarefa de ser pai e, podemos dizer, que deixará muitas saudades e fará MUITA falta, tanto para Pedro quanto para seu irmão, Eduardo.
Uma pessoa muito querida por todos ao seu redor. Tinha enorme facilidade para fazer amigos e era dono de uma inteligência surpreendente!
Foi excelente profissional. Médico dedicadíssimo que ensinou para nós o verdadeiro valor da Medicina: cuidar do outro.
Cirurgião hábil e extremamente preciso, conduziu a vida de inúmeros pacientes que sempre o admiraram como médico e, principalmente, pela sua dedicação e amizade.
Deixa-nos de maneira muito precoce e rápida, porém com serenidade e sem dor.
Sempre lembraremos do seu jeito cativante, da sua gentileza, inteligência, generosidade e do seu amor.
Temos certeza que ele sempre estará ao nosso lado, conduzindo de maneira majestosa nossa vida.
Esperamos poder algum dia, de alguma forma, voltar a tê-lo ao nosso lado. Um grande pai e amigo fiel, que sempre se dedicou a todos nós com muito carinho e muito amor.
Vai fazer muita falta.
Com carinho e muito amor,
Marcia Pires de Oliveira
Pedro Portilho
Eduardo Portilho
Depoimento:
“O ano era 1979. Meu querido amigo e chefe, Antonio Vieira de Mello, me comunicou que receberíamos um reforço para nossa pequena equipe. Um certo Dr. Marcio que vinha lá da Angiologia da UFRJ. Confesso que fiquei temeroso por ser meio que "filho único" e ter um professor particular 24 horas por dia.
Mal sabia eu que esse fato mudaria minha vida. Que encontraria um novo irmão na vida, dotado de uma inteligência ímpar, de um pensamento crítico rápido e preciso e um ser humano desprovido de vaidades e futilidades.
Trabalhamos lado a lado no Hospital Cardoso Fontes por anos e criamos um grupo fora do hospital com Silvio, Eurico, Fábio e Júlio, que marcou época na Cirurgia Vascular carioca e em cada um de nós.
Vivemos inúmeros momentos de grande alegria juntos e nos amparávamos mutuamente nas dificuldades médicas e profissionais.
Lembro bem da felicidade do Marcio, junto ao amor da sua vida, a Marcia, com a vinda do Pedro, que somando -se ao Dudu, eram seus tesouros mais preciosos.
Enfim, só posso agradecer a Deus por ter tido a oportunidade de conviver com esse ser humano tão especial, portador de uma mente verdadeiramente brilhante.
Parafraseando Milton Nascimento, amigo é coisa para se guardar no lado esquerdo do peito e você, Marcio, mora no ventrículo esquerdo de uma legião de amigos e admiradores como eu.
A SBACV-RJ, entidade para qual você dedicou tanto do seu brilhantismo e tempo, está bem mais pobre com a sua ausência. Entretanto, a SBACV celestial está em festa com a sua chegada.
Não lhe digo adeus meu querido irmão e amigo. Digo simplesmente um até breve, pois tenho a certeza que nos reveremos em outro plano que não esse aqui.
Que Deus o abençoe e lhe traga Sua infinita paz e conforte nossos corações, de toda a família e amigos.”
Dr. José Luis Camarinha do Nascimento Silva
Paulo Márcio Canongia
Paulo Márcio Canongia
Paulo Marcio, meu grande mestre. Que saudade!
*Dr. João Sahagoff, Presidente da SBACV-RJ (2020-2021)
Paulo Marcio Goulart Canongia. O destino fez com que eu tivesse a doída tarefa de anunciar sua partida no final da minha gestão como presidente da SBACV-RJ. Quão difícil foi e é. Talvez, seja para mim por muitos e muitos anos.
Paulo Marcio é reconhecidamente um dos sócios mais ativos, um dos diretores mais dinâmicos e um dos maiores presidentes da história da nossa amada SBACV-RJ.
A família Canongia tem sua origem na Catalunha, mas Ignacio Canongia (trisavô de Paulo Marcio) migra para Portugal a convite de Sebastião José de Carvalho e Melo (Marquês de Pombal), pois era mestre na produção da seda e, seu neto Thiago Henrique Canongia (avô de Paulo Marcio) migra para o Brasil em 1857. Paulo Marcio nasce a 26 de maio de 1950, na cidade do Rio de Janeiro, filho de Helio Augusto Canongia e Lygia Goulart Canongia. Pai amoroso de Paula Moraes Canongia e Pedro Paulo Silva Canongia, Paulo Marcio foi também um vovô muito querido.
Paulo ingressou no ano de 1969 na Faculdade Nacional de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro, ainda no saudoso prédio da Praia Vermelha, cruelmente demolido no ano de 1973. Sua vida de estudante esteve sempre ligada ao seu querido Hospital do Andaraí. Ele inicia estágio em 1970 e cursa o internato em 1974, mesmo ano que conclui seu curso médico.
Em 1975, começa sua residência médica no Hospital do Andaraí, após aprovação em 1º lugar, onde aprende cirurgia com grandes mestres e dentre eles, o Prof. Octavio Benjamin Tourinho. Neste mesmo ano, a então SBAng credencia o Serviço de Cirurgia Vascular, chefiado pelo Prof. Tourinho.
No ano de 1977, faz concurso público do antigo Inamps e é aprovado em 4º lugar para trabalhar como cirurgião vascular no seu sempre presente Hospital do Andaraí. Foi plantonista, staff da rotina do Serviço, médico responsável pelas angiografias eletivas (eu aprendi como interno de Medicina a fazer aortografia por punção translombar com agulha de Cid dos Santos com Paulo Marcio) e Chefe de Serviço até se aposentar em 2008.
Foi aprovado nos seguintes concursos: acadêmico bolsista da Suseme (HMMC) e acadêmico de Medicina de hospitais militares (HCE) no ano de 1974; angiorradiologia (Inamps), Título de Especialista em Angiologia da SBACV/AMB, Título de Especialista em Cirurgia Vascular da SBACV/AMB em 1977.
Na UFRJ, fez concurso público em 1996 para ingressar no curso de pós-graduação lato sensu de Mestrado em Cirurgia Geral - Setor Vascular, sendo aprovado e, após um ótimo curso (foi meu colega), defendeu em 2000 sua dissertação sob a orientação do Prof. Luis Felipe da Silva (seu colega de estágio no hospital Vall d’Hebron em 1979, em Barcelona), concluindo com brilhantismo.
Quando parecia que sua vida profissional estava se encerrando, fez novo concurso público para angiologista do município de Silva Jardim no ano de 2016. Aliás, esse município da baixada litorânea fluminense teve especial lugar no coração de Paulo Marcio. Foi lá que Paulo começou um empreendimento rural adquirindo, plantando e tornando realidade a agricultura do palmito pupunha na região. Na sua propriedade, a Fazenda Mico Leão Dourado, Paulo Marcio criou inúmeras situações para atrair o turismo ecológico, mostrando como era o cultivo através da escolha e preparo das mudas, o plantio, os cuidados e a colheita do palmital e desenvolvendo atrações como tirolesa e arvorismo. A partir de 2007, ajudou a criar a “1ª Festa da Pupunha de Silva Jardim”. Foi um incentivador tão grande desse cultivo e da festa da planta nesta região, que é considerado o Patrono da Festa da Pupunha. A coisa deu tão certo que a referida festa faz parte das datas comemorativas e do calendário turístico oficial do Estado do Rio de Janeiro. Foi também fundador da Associação dos Produtores de Palmito da Baixada Litorânea do Rio de Janeiro juntamente com outros 11 produtores locais.
E sua vida de produtor rural não se resumiu à produção de palmito agroecológico. Em 2008, iniciou o projeto Tecnogir de criação de gado Gir leiteiro e melhoramento genético através da técnica de fertilização in vitro e começou a produzir o gado Girolando, tendo animais para venda e para uso próprio. Com esse gado de alta qualidade, passou a produzir leite direcionado para a Leiteria Jardim, no sítio Bonjour, onde produzia queijo minas frescal, queijo meia-cura, manteiga e creme de leite fresco.
Por essas e outras, recebeu o título de cidadão Silvajardinense em 2012 e foi agraciado com a medalha do mérito legislativo de Silva Jardim em 2017.
Na SBACV-RJ, trabalhou com vários presidentes em diversas diretorias, sempre seguindo disciplinarmente suas orientações e de acordo com a devida liberdade que lhe deram. Em 1990-91, como Vice-Diretor de Publicações na gestão de Reinaldo José Gallo, transformou nosso boletim e passou a oferecer uma distribuição nacional, patrocinada pelas empresas. A família SBACV de todo o Brasil ficou feliz por receber o periódico e os recursos excedentes ajudaram na aquisição da nossa primeira sede da Regional na Avenida Venezuela, na zona central da cidade do Rio de Janeiro. O sucesso na pasta foi tão grande que, na gestão seguinte (Vasco Lauria da Fonseca Filho), em 1992-93, como Diretor de Publicações criou a Revista de Angiologia e Cirurgia Vascular, primeira a ser de propriedade da Sociedade e promoveu sua distribuição gratuita no Brasil, Mercosul e até Portugal. Sua dedicação à Revista era tão grande que comprava o filme fotográfico da Kodak para a impressão como uma forma de reduzir custos, mas sua astúcia era tão aguçada que fez com que a companhia, em troca de anúncio na Revista e no Boletim da SBACV-RJ, fornecesse o filme sem custo. Além disso, conseguia através da boa relação com seus pacientes, acesso a papel de alta qualidade com preço diferenciado, mais barato, para que a publicação da Regional RJ fosse sempre um destaque.
Em 1994-95, ainda como Diretor de Publicações, agora da gestão José Luis Camarinha do Nascimento Silva, montou um trailer na porta do Hotel Méridien, onde duas enfermeiras e dois médicos residentes atendiam a população de 3ª idade e distribuíam uma edição especial da revista, que explicava as principais doenças vasculares. A compilação dos dados destas pessoas avaliadas gerou um artigo publicado pelo Dr. Sergio Pacheco de Oliveira.
Na gestão de Marcio Leal de Meirelles (1998-99) foi Diretor de Eventos, cargo que na época não fazia parte da diretoria executiva (só foi oficializado em 2015 na comissão coordenada por mim e José Luis Camarinha que criou o Estatuto e o Regimento Interno da SBACV-RJ na gestão Julio Peclat), mas que entendia ser de fundamental importância, pois acreditava que deveria ser voltado para o associado tanto na integração dos membros da Regional, quanto na aproximação dos sócios com a população. Neste período, introduziu o lanche nas reuniões científicas e a cobertura do valor do estacionamento, no intuito de aumentar o quórum das reuniões. Desenvolveu as reuniões fora da sede em fins de semana, com a presença dos familiares. Com a minha ajuda, seu vice-diretor, foi feita a primeira reunião científica fora de sede, no distrito de Penedo, município de Itatiaia, organizada por Luiz Carlos Gonçalves e os sócios do Sul Fluminense. A segunda reunião foi na Ilha de Itacuruçá, distrito de Mangaratiba, na Costa Verde, organizada por Adalberto Paulo Waack e a terceira reunião ocorreu em Silva Jardim, organizada pelo próprio Paulo Marcio. O sucesso destas primeiras reuniões foi tanto que colegas do estado de São Paulo vinham as nossas reuniões com suas famílias. Também neste período, promoveu a primeira teleconferência via Embratel, com palestra do Prof. Antonio Lópes Farré, de Madri, moderada por Gaudêncio Espinosa e transmitida ao vivo para cinco capitais.
Ainda como Diretor de Eventos do biênio 1998-99, delegou a missão ao seu jovem pupilo – eu, João Sahagoff -, de montar um stand na rua, dessa vez em frente ao então Hotel Sofitel (hoje Fairmont), em Copacabana, onde aconteceria o Encontro de Angiologia e Cirurgia Vascular do Rio de Janeiro, a fim de realizar ecocolorDoppler das artérias carótidas para a população. Consegui uma parceria com um clube da melhor idade (Clube Cultural e Recreativo Posto 6) na praia de Copacabana, ao lado do hotel do congresso, e com um patrocínio conseguido pelo Dr. Paulo Marcio, mais a parceria de uma clínica de imagem, foram realizados mais de 450 exames de ecografia vascular na população atraída pela curiosidade em conhecer as doenças vasculares, sendo 281 em indivíduos da terceira idade, encontrando nestas pessoas mais idosas 123 placas carotídeas (43,77%). Aproveitaram para também distribuir o guia médico dos angiologistas e cirurgiões vasculares da SBACV-RJ, que serviria ainda como porta de entrada de futuras consultas para nossos especialistas.
No biênio 2000-01, foi vice-presidente da Regional RJ (gestão Alberto Coimbra Duque) e atento e sensível à questão dos honorários médicos, participou ativamente do grupo que trabalhou pelas mudanças na tabela de procedimentos da AMB.
Em 2002-03, chegou à presidência da SBACV-RJ. Passou a transmitir as reuniões científicas mensais via internet para todo o estado do Rio de Janeiro, promoveu a readmissão de sócios que estavam afastados, manteve as reuniões fora da sede, promoveu a 1ª Semana Nacional de Saúde Vascular, na estação do metrô Carioca, criou o sítio na web da SBACV-RJ, com a ajuda de Francisco Martins. Fez também um convênio jurídico com o escritório de Antonio Couto e Advogados Associados. Com a minha ajuda, na época Tesoureiro-Geral, publicou balanço financeiro quadrimestral no Boletim da SBACV-RJ e contratou auditoria financeira independente para o balanço final mostrando transparência total da gestão. Com sucesso, obtivemos uma inadimplência de apenas 7%. Em 2002, foi traçado o Perfil da Angiologia e da Cirurgia Vascular do Rio de Janeiro, trabalho hercúleo de Ney Abrantes Lucas, sendo confeccionado um mapa retratando a presença ou ausência dos nossos especialistas nos 92 municípios do Rio de Janeiro. Neste mesmo ano, houve a comemoração dos 50 anos da Sociedade e foi realizada uma festa maravilhosa no Morro da Urca, com a presença e premiação dos fundadores e ex-presidentes.
Após a publicação do artigo “Legião dos Amputados”, de Ivan Arbex e Jorge Darze, o Ministério Público tomou o editorial como uma denúncia e arguiu as Secretarias Estadual e Municipal de Saúde. Sem saber julgar quais as medidas cabíveis, encaminhou as respostas das secretarias para a SBACV-RJ. A SBACV-RJ reuniu chefes de Serviços e líderes de opinião, que fizeram uma rotina de atendimento, além da proposta de encampar esta tarefa pela nossa cooperativa, a Coopangio-RJ (infelizmente não aceita). Programou durante o Encontro Carioca (em maio de 2002), uma mesa-redonda sobre pé diabético, com participação da SBACV-RJ, das Secretarias Estadual e Municipal e do Parquet, abordando prevenção, tratamento e a proposta da SBACV-RJ. O promotor, Dr. Emiliano Brunet (MP-RJ) explicou o que era o TAC (Termo de Ajuda de Conduta), marcando a 1ª audiência para 22 de maio de 2002, iniciando uma nova era de atenção a estes pacientes. Como resultado, foi criado o curso de capacitação de Agentes Comunitários de Saúde, com aulas presenciais ou gravadas sobre como identificar as lesões vasculares mais frequentes. Essas informações foram impressas na Revista da SBACV-RJ. A maioria dos municípios foi alcançada graças à colaboração de Gina Mancini e, com isso, fomos capazes de trazer à tona uma demanda reprimida por desconhecimento.
O auge de sua gestão foi a aquisição da nossa sede atual. Já havia significante quantia em caixa, fruto de sucesso das gestões anteriores e esse valor foi subitamente dobrado a partir do lucro do 34º Congresso Brasileiro realizado no Rio (trazido por Carlos José de Brito e Adalberto Pereira de Araújo, respectivamente Presidente e Tesoureiro do Congresso) com apoio dos Tesoureiros da gestão anterior e da sua gestão, Drs. Manuel Julio Cota Janeiro e eu. Foi adquirida a sala 1201 do Centro Empresarial Amadeus Mozart (prédio do Amarelinho, na Cinelândia, Centro do Rio), edifício tombado pelo Patrimônio Histórico e premiado pela sua brilhante restauração, que foi reformada e decorada pela arquiteta Fátima Pires Relvas. O Prof. Rubem Carlos Mayall foi o primeiro a entrar na sede como ato simbólico, durante a inauguração festiva em 13 de maio de 2003.
Participou como apoiador e colaborador discreto em outras gestões. Desde a gestão 2018-19 de Breno Caiafa, criou a seção Fora do Consultório, segmento que humanizou a Revista, mostrando um lado pessoal de cada um que foi entrevistado. Um lado que diferencia o sócio do senso comum, mostrando um hobby ou uma atividade extra de cada especialista que realiza com o mesmo amor com que pratica a Medicina. Essa coluna foi mantida na atual gestão, porém não conseguiu ser plena, pois a doença abateu Paulo Marcio, primeiro a famigerada pandemia de SARS-Cov-2, que quase nos tirou Paulo no final de 2020. Depois, porque foi descoberta neoplasia pancreática que finalmente o levou no final de 2021.
Felizmente, foi possível homenagear Paulo Marcio durante o XXXV Encontro de Angiologia e Cirurgia Vascular do Rio de Janeiro, em março de 2021, momento emocionante que fez chorar a todos que conseguiram estar presente na véspera de novo lockdown e os milhares de médicos que só puderam assistir de modo remoto a linda homenagem. Missão cumprida que havia anunciado a ele desde setembro de 2018.
Dotado de grande espírito empreendedor, criativo e inovador foi sempre um homem muito à frente do seu tempo. Quando havia dúvida ou divergência sobre que caminho deveria ser tomado, tinha a necessária perspicácia de entender como ninguém determinada situação e detinha capacidade única de perceber qual caminho tomar, na maioria das vezes, uma terceira via que ninguém havia conseguido vislumbrar. Extremamente dedicado à vida associativa, inovou a maneira da Sociedade se relacionar com o seu próprio associado, seja através do Boletim, da Revista da SBACV-RJ, das campanhas com stands junto à população, seja através das reuniões científicas nas seccionais do interior. Médico humano, bom pai, avô e amigo, iluminava o ambiente em que chegava. Deixa órfã sua amada filha, a Revista de Angiologia e Cirurgia Vascular do Rio de Janeiro a cada número a ser publicado daqui por diante e deixa imensa saudade nos membros de sua equipe, nos seus ex-alunos e ex-residentes e neste seu seguidor dileto dentro da SBACV, porém seu legado jamais será esquecido e está marcado para sempre na história da SBACV.
Rubens Mayall
Rubens Mayall
Filho de Alberto Carlos Mayall e de Elvira Jordão Mayall, Rubens Carlos Mayall nasceu em 7 de julho de 1917 em Petrópolis, Rio de Janeiro. Casou-se com Magdalena Aurora de Oliveira Dias Garcia Mayall, com quem teve os filhos Antônio Carlos, Madalena Maria (falecida em 1984), Teresinha Maria (falecida em 1997), Maria do Rosário, Rubens Carlos (falecido em 1978), Luís Carlos e Ana Maria. Seus netos: Carlos Felipe, Letícia, Mônica e Regina (falecida).
Depois do ensino básico, realizado no Colégio São Vicente de Paulo, em Petrópolis, em 1934 matriculou-se na Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil.
Em 1935 trabalhou no Laboratório de Análises no Serviço do Professor Figueiredo Baena, da Cadeira de Urologia e, em 1936, no Ambulatório de Cirurgia Geral da Policlínica do Rio de Janeiro, em Botafogo, sob a direção do Dr. João Batista Canto. Em 1937 obteve o 1º lugar em concurso para auxiliar acadêmico da Secretaria Geral de Saúde e Assistência da Prefeitura. De 1937 a 1938 trabalhou como interno-estagiário da 9ª Enfermaria da Santa Casa da Misericórdia – Serviço do Prof. Clementino Fraga. Colou grau em 1939. De 1938 a 1940 foi auxiliar acadêmico do Hospital Pronto Socorro da Secretaria Geral de Assistência do Distrito Federal e interno do Serviço de Clínica Médica – Serviço Benício de Abreu, sob a direção do Dr. Genival Londres. Organizou, neste período (1939/40), dois cursos de interpretação hematológica para os auxiliares acadêmicos. Em 1941 organizou com o Dr. Walter Montenegro um Serviço de Oxigenioterapia, Carbogenoterapia e Aerosolterapia. Foi o pioneiro nesta área. No período compreendido entre os anos 1942 e 1957, fez o curso de formação de oficial médico na Escola de Saúde do Exército; estagiou no Serviço de Angiologia dos Prof. Nicola Romano e Rodolfo Eyherabide, do Hospital Duran, em Buenos Aires, Argentina; na cátedra de Medicina Operatória do Prof. Antônio Souza Pereira, na cidade do Porto, Portugal; no Serviço de Hematologia do Hospital Mount Sinai, em Nova Iorque, USA, no Serviço de Doenças Vasculares do Dr. Irving Wrigh; no Serviço de Hematologia do Dr. Alfredo Pavlovsky, da Academia Nacional de Medicina, em Buenos Aires; no Grupo de Angiopatias do Prof. Fontaine, em Strasbourg, França; no serviço de Citologia do Dr. Forteza Bover (Espanha) e no grupo de Hemodiálise do Hospital Buffalo, USA.
Em 1954, Rubens Mayall assumiu a chefia da Clínica Médica do Hospital Nossa Senhora da Saúde, (Gambôa, Rio de Janeiro), entidade na qual fundou o Centro de Estudos e Pesquisas, em 1959. Em 1962 foi nomeado diretor interino deste hospital, quando então criou o Serviço de Clínica Médica, Angiologia e Cirurgia Vascular.
Em 1937 obteve o 1º lugar no concurso para auxiliar acadêmico do Pronto Socorro. Em 1941 obteve a primeira colocação no concurso para oficial médico do Serviço de Saúde do Hospital da Polícia Militar, e, no mesmo ano, a terceira colocação no concurso para o Serviço Médico do Corpo de Bombeiros. Em 1970 foi aprovado no concurso livre-docência da Universidade do Rio de Janeiro – UNI-Rio. Defendeu as teses: "Edemas linfáticos e venosos", Úlceras tróficas de origem venosa", "Pé diabético" e "Síndrome de Hiperostomia".
De suas atividades como médico e professor destacam-se, além de vários cursos ministrados no Brasil e no exterior: médico do Hospital N. S. da Saúde (Gambôa, Rio de Janeiro, onde mantém sua Clínica de Angiologia e Cirurgia Vascular, e professor titular da faculdade de Medicina de Valença, Rio de Janeiro, desde 1970.
O Dr. Rubens Mayall é sócio-fundador das Sociedades Brasileiras de Nefrologia, de Hematologia (1950) e de Angiologia, da qual também foi seu 1º vice-presidente (1952), secretário-geral (1965 a 1968) e tesoureiro geral (1968/1971 e 1975/1979) e, ainda, fundador da Regional do ceará (1973). É sócio do American Heart Association, desde 1946, do Centro de Estudos João Batista Canto (1949), da Sociedade Internacional Européia de Hematologia (1952), da Sociedade Internacional de Hematologia (1954), titular e colaborador internista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões (1954), tesoureiro do Capítulo Latino-Americano da Internacional Cardiovascular Society of Angiology (1954), sócio da International Society for Research on the Coagulation of Blood, Capilay Function and Pratical Myology (1958), sócio estrangeiro da Sociedade Chilena de Angiologia e da Sociedade Argentina de Angiologia.
É membro da Sociedade de Cardiologia do Rio de Janeiro, da Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, da Comissão Técnico-Científica de Hematologia da Sociedade de Hematologia e Hemoterapia do Brasil, da Internacional Society of Hematology Felow de Caracas (1970), titular da Sociedade Brasileira de Escritores Médicos, da Sociedade Peruana de Angiologia, da Academia Nacional de Medicina e da Academia Nacional de Medicina Militar. É membro honorário das sociedades uruguaia, chilena e mexicana de Angiologia, da Sociedade de Angiologia e Histopatologia de Paris, da Union Internationale d'Angéologie, da Sociedade Cardiovascular do Chile, "Member at Large" da Panamerican Medical Association e membro estrangeiro da Milgliederverzeichnis der Schrveiz Gessellschaft fur Phlebologie.
São quase inumeráveis os prêmios e as homenagens que lhe foram prestadas por várias faculdades, universidades, congressos nacionais e internacionais, em razão das atividades nos seus 60 anos de vida médica, valendo destacar: Santa Maria, RS (1973); Professor homenageado pelas turmas da Faculdade de Medicina de Valença durante vários anos; Cidadão Carioca do Rio de Janeiro (1975); Único médico brasileiro a receber a Medalha de Ouro de Ratschow, do Curatorium Angiologie Internacional na Alemanha, das mãos do Prof. Norbert Kluken (1979); Medalha de Ouro no grau de Grão-Mestre, da Sociedade Brasileira de Angiologia (1982); Medalha de Mérito Naval, recebida do então Presidente João Batista Figueiredo (1983); Professor honorário da Universidade de Salvador (1997); Título de Membro de Honra do Clube da Linfologia durante o XVI Congresso Internacional de Linfologia (Madrid, 1997); Título de Cidadão Valenciano pelos serviços prestados à medicina da cidade de Valença (1998); Quadro e placa de mármore a ele dedicados pelo Congresso Internacional de Linfologia realizado em em 1999, em Chennai, Índia; Título de "Maestro de La Flebologia Argetina", concedido durante o Congresso Pan-Americano de Flebologia e Linfologia (Córdoba, 2000); Título de Membro de Honra da Sociedade Espanhola de Flebologia e Linfologia (2000).
O Prof. Rubens Mayall fez vários estágios em Universidades e hospitais da Argentina, Portugal, França, Espanha e Estados Unidos.
Escritor incansável, de sua autoria destacam-se as seguintes publicações: Doenças oclusivas das artérias e veias, Manual de Angiologia para o Clínico, Pé diabético, Úlceras tróficas de origem venosa, Síndrome de Hiperostomia e Edemas linfáticos e venosos dos membros inferiores.
O Prof. Dr. Rubens Carlos Mayall foi campeão de tênis brasileiro juvenil simples e de dupla mista no Fluminense Futebol Club (1936); de tênis de mesa durante duas viagens nos navios Serpa Pinto e Provence; do 1º time de futebol de ponta esquerda do Colégio São Vicente de Paula (Petrópolis); neste colégio aprendeu a tocar violino até a 8ª posição. Fala e escreve várias línguas: inglês, francês, italiano e alemão (um pouco).
Produção Editorial: Trasso Comunicação e Assessoria Ltda. - SBACV 1952-2002 - 2ª Edição revisada e ampliada. Biografias - Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular.