Autores:
Alcides José Ara jo Ribeiro, Marcos Arêas Marques, Sebastião Vidigal, Adilson Ferraz Paschôa. Informações sobre os autores
AJAR. Mestre em Ciências para a Sa de pela Escola Superior de Ciências da Sa de (ESCS)/Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Sa de (FEPECS); especialista em Cirurgia Vascular, Angiologia e Ecogra a Vascular; diretor cientí co da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV-DF) 2018/2023; preceptor de Residência em Cirurgia Vascular do Hospital de Base do Distrito Federal; sócio-diretor da Clínica de Veias.
MAM. Médico angiologista do Hospital Universitário Pedro Ernesto da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e do Hospital Universitário Gaffrée e Guinle da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio); mestre me Medicina pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio).
SV. Médico psiquiatra, psicoterapeuta de orientação analítica, mestre em psicopedagogia. Professor de Psicologia Médica, Sa de Mental I e II da Faculdade de Medicina de Barbacena.
AFP. Doutor em ciências médicas pela Universidade Estadual de Campinas. Corresponsável pelo Serviço de Cirurgia Vascular do Hospial da Bene ciência Portuguesa de São Paulo.
A liação:
Hospital de Base do Distrito Federal, Brasília, DF, Brasil.
Clínica de Veias, Brasília, DF, Brasil.
Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Faculdade de Medicina de Barbacena, Barbacena, MG, Brasil.
Hospital Bene ciência Portuguesa, São Paulo, SP.
Correspondência:
Alcides José Ara jo Ribeiro
SEPS 715/915 conjunto A Bloco D Sala 317/318/319 – Asa Sul CEP: 70673-428 – Brasília (DF) – Brasil
Tel.: +55 (61) 3202-4332
E-mail: dr.alcides@gmail.com
Informações sobre o nanciamento: nenhuma.
Con½itos de interesse: os autores declararam não haver con½itos de interesse que precisam ser informados.
Existe frequentemente uma certa incompatibilidade entre os objetivos do médico e as necessidades e os anseios do paciente vítima de tromboembolismo venoso (TEV). Muitas vezes, dedica-se pouca atenção ms questões emocionais, e estas a½oram substancialmente ao informar o paciente e sua família sobre este diagnóstico.
A comunicação do diagnóstico agudo do TEV pode ser desa adora e durante a pandemia de Covid-19, a ampla divulgação da associação dessa doença com o TEV e a morte aumentou muito o medo e a apreensão dos pacientes com a palavra “trombose”.
Os impactos psicológicos e emocionais são raramente avaliados nas pesquisas sobre o TEV. Um estudo americano analisou as consequência psicológicas em 907 pacientes com TEV, encontrando um medo diário de recidiva em torno de 40%, quadro de ansiedade em 24,7% e de depressão em 11,6% dos participantes. Já um estudo de corte baseado na população dinamarquesa evidenciou que o TEV foi associado a um risco 1,9 vezes maior de depressão subsequente em comparação com a população em geral. O risco foi particularmente alto e pacientes com EP e naqueles com TEV associado ao câncer. Foi também relatado um impacto aior nos pacientes mais jovens, sendo evidenciados altos níveis de ansiedade, medo, pânico, pesadelos e sintomas de estresse pós-traumático. Pacientes com TEV podem ter mais ansiedade do que pacientes com outras doenças graves como o infarto agudo do miocárdio, por exemplo.
No Canadá, um estudo levantou sete temas maiores relacionados m experiência do paciente com TEV: o impacto agudo (choque inicial e sintomas físicos), o sofrimento psicológico persistente (medo de recorrência do TEV e morte), a perda de si mesmo (mudanças de hábitos e tomada de decisões para o futuro), os desa os no tratamento do TEV (anticoagulação e meias de compressão elástica), o equilíbrio nas mudanças de vida, a experiência negativa com o sistema de sa de (ocorrência de atrasos e erros diagnósticos) e o TEV associados m outras doenças.
A linguagem alarmista e as metáforas médicas mal aplicadas foram identi cadas como fontes de anseidade neste contexto. Depoimentos de pacientes e artigos especí cos relatam frases selecionadas pelos pacientes como altamente prejudicias, como por exemplo: “já vi pacientes
morrerem com o que você tem”, “você poderia ter morrido se não tivéssemos feito este diagnóstico hoje”, “você é uma bomba-relógio ambulante”. O médico deve usar uma linguagem básica e leiga, com tempo e local adequados para se comunicar com o paciente. Cada paciente e familiar têm uma postura diante da informação. O excesso de conte dos técnicos, quando não solicitados, podem aumentar a insegurança e a ansiedade.
As técnicas de comunicação de más notícias, como o protocolo SPIKES (do inglês, Setting up, Perception, Invitation, Knowledge, Emotions, Strategy and Summary), podem ser utilizadas em muitas situações neste cenário. Deve ser avaliada constantemente a compreensão do paciente sobre o que é explicado, observando o cuidado com a postura e a linguagem não verbal, evitando faces de preocupação, tensão e descaso no momento do atendimento.
No espaço onde se desenvolve a relação médico-paciente, ocorrem manifestações positivas e negativas, resultado das fantasias de cada uma das partes. As manifestações positivas incluem sentimentos de empatia, admiração, amor e paixão, enquanto as manifestações negativas expriem sentimentos de medo, hostilidade, ira, cólera e ódio. Ǫuando o médico consegue fazer prevalecer seus aspectos racionais, adequados, conscientes, ele tem oportunidade de fazer pleno uso de seus conhecimentos técnico-cientí cos. Ao procurar aliviar o sofrimento de seu paciente, ele assume uma atitude de expectativa, cando sintonizado nas suas reais capacidades e limitações sendo, então, capaz de lidar com sua ang stia e sua culpa.
Novos termos são descritos e citados em artigos recentes nesta área, como a síndrome do pânico pós-trombose e a tromboneurose.
O controle da ansiedade após o TEV reduz o estigma que algumas pessoas podem sentir ao falar sobre isso e possibilita conversas que podem ser extremamente reconfortantes para nossos pacientes. Para alguns, superar este bloqueio é importante para envolver familiares e amigos em busca de mais apoio.
Não se deve esperar que o TEV considerado “mais leve” ou mais controlável provoque menos ansiedade. A ansiedade não está relacionada simplesmente a isso, pode re½etir na maneira como o paciente interpreta seus riscos e o apoio que poderá encontrar em outras pessoas. Entender a compreensão das informaç~ies e do entendimento do risco é fundamental. Ǫualquer d vida, seja ela pertinente ou fantasiosa, deve ser esclarecida. Muitas vezes, as ansiedades dos pacientes são baseadas em informações erradas ou mal-entendidas, e isso pode ser facilmente corrigido.
Veri car o bem-estar emocional do paciente durante as consultas é tão importante quanto avaliar sua sa de física.
“Ouça o seu paciente, ele está lhe dizendo o diagnóstico”, Willian Osler (1849-1919).
O médico deve ter em mente que nem todos sentirão ansiedade após o TEV. É preciso compreender que, de uma perspectiva psicológica, as circunstância do TEV e seu tratamento e risco contínuo podem fornecer o ambiente perfeito para ansiedade relacionada m doença. É importante que se utilize as ferramentas adequadas para responder da melhor maneira possível.
Várias ações são descritas com esses propósitos, como: a avaliação precoce por um médico especialista, a escuta ativa do paciente, a aborsage de suas preocupações, o fornecimento de informações impressas e on-line sobre a doença, bem como orientação sobre grupos de apoio, sites con áveis e palavras-chaves especí cas para apoio nas pesquisas na internet (Google e Youtube*, dentre oytris), além de uso de outros recursos didáticos.
Caso a ansiedade ou as di culdades psicológicas estiverem causando sofrimento contínuo ao paciente, deve-se considerar o encaminhamento para apoio especializado. Os problemas psicoemocionais relacionados ao TEV, geralmente, desaparecem co o tempo e com o apoio da família, amigos e da equipe médica. Mas, se os sintomas persistirem por mais de três meses com prejuízo das atividades diárias, do relacionamento pro ssional e familiar, a intervenção dos especialistas será muito importante.
É preciso considerar que o TEV pode ser mais uma experiência negatia para uma vivência psicoemocional carregada de outros problemas, Nessas circunstâncias, as marcas deixadas serão maiores e o angiologista e cirurgião vascular terão di culdades para lidarem com o paciente neste contexto.
O impacto do TEV pode ser muito tra matico e mudar a vida do paciente, portanto, há necessidade de novos estudos e diretrizes, bem como programas de edução médica continuada e palestras em eventos na área de sa de.
Valorizar a discussão dessa face ainda obscura do TEV representa levantar uma nova bandeira a favor dos pacientes. Com empenho, valorização e empatia, podemos atenuar as consequências e proporcionar uma melhor experiência e evolução para os nossos pacientes com TEV.
“As pessoas podem esquecer o que você disse, as pessoas podem esquecer o que você fez, mas as pessoas nunca esquecerão como você as fez sentir”, Carl W. Buehner (1898-1974).